domingo, 13 de novembro de 2011

O virtual como paradigma para a educação

Defina-se primeiramente virtual. Segundo Levy (1996),
 ... a palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado, por sua vez, de virtus, força, potência... (p. 15)
Nas suas considerações, Levy (1996) retira a oposição entre o real e o virtual. Para ele, virtual deve ser considerado como algo que existe em potência:
... é como o complexo problemático, o nó  de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução, a atualização... (p. 15)

Esta ideia de  potência é reforçada por Melaré, citando Levy:
A árvore está virtualmente presente na semente. (Melaré, O Virtual)

Segundo Lévy (1996), o virtual pode ser oposto ao atual, porque o virtual carrega uma potência de ser, enquanto o atual já é. Este é alimentado pelo real, mas não é real, pois é desprovido de materialidade. Ao falarmos de virtual, segundo Melaré (2010, p. 3), falamos  de elementos e características que o constituem.
O virtual surge como um espaço recheado de novos espaços nele contidos. É um local quase que atemporal, pois todos podem gerir os seus tempos de forma individual. Possui um linguagem própria cheia de simbologia e imagens. Aí as palavras ganham novos e mais intensos significados. Existe uma interação entre os vários utilizadores e verifica-se uma atualização constante das informações nele contidas. O virtual surge na sua forma potencializado pela tecnologia.
Com as suas particularidades o virtual emerge com um espaço especial com características próprias. Debrucemo-nos sobre  algumas das suas características enumeradas por Melaré (2010, pp. 8-16)

Quadro 1- Tabela baseda em Melaré (2010)

Tendo em conta estas características poderemos verificar que existe uma diversidade de opções que podem potencializar a educação. A evolução constante da tecnologia tem impulsionado a educação para novos rumos, enfatizando a utilização de novas ferramentas, propiciando uma evolução no processo de aprendizagem (Braga, 2001).
No seu estudo a comunidades virtuais, Henri e Pudelko (2003) lembram que a aprendizagem  é um processo social, mesmo em ambientes virtuais, e que a participação nas comunidades leva sempre a uma aprendizagem. As comunidades de aprendizagem permitem, assim, um conhecimento mais profundo dos conteúdos e mais interacão entre eles. Tal como neste estudo as características do virtual que podem ser usadas na educação, seja ele formal (depende de uma instituição) ou informal (depende do indivíduo).
A flexibilidade existente em ambientes virtuais de aprendizagem promove o uso dos diferentes estilos de aprendizagem.  Tal fica a dever-se ao facto de  existir a possibilidade de utilizar estratégias, atividades e materiais em formatos diversificados que melhor se adequem às diferentes formas de apreensão e transformação da informação inerentes aos diversos tipos de aprendentes. (Goulão, 2011)
Para Moran (2010), educar é colaborar para que professores e alunos transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. O conhecimento dos estilos de aprendizagem pode contribuir para ajudar a adequar o ambiente virtual de aprendizagem às necessidades e características da sua população alvo, os aprendentes.
O virtual muda a relação de espaço, tempo e comunicação com os alunos. O espaço de trocas aumenta da sala de aula para o virtual. O tempo de enviar ou receber informações amplia-se para qualquer dia da semana. O processo de comunicação dá-se em qualquer espaço. O papel do professor convencional será um papel de animação e coordenação muito mais flexível e constante, que exige muita atenção, sensibilidade, intuição e domínio tecnológico.
Se por um lado o virtual tem todas as características como fonte de aprendizagens significativas, pois permite ao comum utilizador executar formalmente e informalmente qualquer tarefa, por outro lado inflige igualmente um maior dispensa de atenção ao mesmo. Estando o virtual em constante mutação, há que manter-se atualizado e isso requer um enorme esforço por parte do educador. A dinâmica que os conteúdos têm modificado e a forma como se atualizam requer constante formação. Ademais, cada vez que a escola se apetrecha de artefactos tecnológicos e devido a curta durabilidade a nível de atualidade, parece que já coexiste uma nova tendência.
No entanto, há que ter em conta que estamos perante novos aprendizes com perfis diferentes (Prensky, 2001), teremos que mudar de estratégias (Siemens & Tittenberger, 2009) de forma a evitar erros passados (OECD/CERI, 2007).



Bibliografia


Braga, M. (2001). Realidade Virtual e Educação. Obtido em 2 de 11 de 2011, de Revista de Biologia e Ciências da Terra: http://eduep.uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/realidadevirtual.pdf

Fundação Mozilla. (s.d.). The Modzilla Manifesto. Obtido em 8 de 11 de 2011, de http://www.mozilla.org/about/manifesto.pt-br.html

Goulão, M. F. (2011). Estilos de Aprendizagem, ambientes virtuais de aprendizagem e autoaprendizagem. (D. Barros, Ed.) Obtido em 1 de 11 de 2011, de Estilos de aprendizagem na atualidade-volume 1: http://www.fileden.com/files/2011/9/21/3199035/artigo%2010.pdf

Henri, F., & Puldeko, B. (2003). Understanding and analysing activity and learning in virtual communities. Obtido em 3 de 11 de 2011, de http://hal.archives-ouvertes.fr/docs/00/19/02/67/PDF/Henri-France-2003.pdf

Melaré, D. (s.d.). O Virtual. Obtido em 17 de 10 de 2011, de Moodle Universidade Aberta: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=1319321

Melaré, D. (10 de 2010). O virtual como novo espaço educativo. Obtido em 17 de 10 de 2011, de Moodle Universidade Aberta: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?inpopup=true&id=1319311

Moran. (9 de 2010). Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias. Obtido em 3 de 11 de 2011, de Informática na Educação: Teoria & Prática: http://www.eca.usp.br/prof/moran/inov.htm

OECD/CERI. (2007). Learning in the 21st Century: Research, Innovation and Policy. (OECD/CERI, Ed.) Obtido em 5 de 2011, de OECD/CERI International Conference: http://www.oecd.org/dataoecd/39/51/40554230.pdf

Prensky, M. (2001). Digital Natives Digital Immigrant. Obtido em 4 de 2011, de http://www.marcprensky.com/writing/prensky%20-%20digital%20natives,%20digital%20immigrants%20-%20part1.pdf

Siemens, G., & Tittenberger, P. (3 de 2009). Handbook of Emerging Technologies for Learning. Obtido em 15 de 4 de 2011, de http://umanitoba.ca/learning_technologies/cetl/HETL.pdf

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